quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Outra asneira na Lagoa das Furnas!

O Partido da Terra condena veementemente o anúncio da construção de um projecto intitulado de “obras de requalificação das Margens da Lagoa das Furnas - Zona Sul”, cujo contrato de empreitada foi ontem assinado pela secretária regional do Ambiente e do Mar. Para o MPT, estamos perante mais um exemplo do que não fazer, e onde não fazer.
Mais uma vez um projecto que será aplicado sobre uma área extremamente sensível e importante como é a Lagoa das Furnas não é conhecido do grande público – uma prática altamente condenável que demonstra o clima de falta de transparência existente, pois a proposta nem figura entre os projectos para consulta pública existentes no site daquela secretaria.
Por uma questão de bom senso, qualquer intervenção neste tipo de locais deve ser bastante leve e sem impactos de qualquer ordem que alterem a fisionomia do local. O que o Governo anunciou é exactamente o oposto e vai alterar radicalmente a imagem da Lagoa das Furnas.
O preço diz muito: mais de 5 milhões de euros “na primeira fase”, uma verba que é claramente desproporcional e que poderá fazer muita falta para outras áreas ambientais onde é fundamental agir.
O prazo de 540 dias é claramente outro exagero; dois anos de trabalhos, dos quais uma boa parte provavelmente inutilizará o usufruto daquela lagoa por parte da população. A haver alguma intervenção, ela deveria ser altamente faseada.
O próprio conceito da obra é condenável.
Primeiro, a transformação da margem sul da Lagoa (junto à ermida) numa rua de calçada é um erro que desvirtua radicalmente a integração daquela lagoa na Natureza. É um “embelezamento” errado que não devia ser realizado. Se o objectivo era reduzir a entrada de terra para a lagoa, haveria outras soluções, nomeadamente com recurso aos materiais do próprio local (resta saber se também colocarão iluminação pública nesse arruamento…).
Depois, condenamos igualmente a volumetria que já se anuncia para a construção de “edifícios para o Centro de Monitorização e Investigação das Furnas”. Segundo declarações da secretária à comunicação social, esses edifícios permitirão a realização de conferências científicas – que claramente, a serem realizadas, deveriam utilizar as estruturas existentes na freguesia. Nunca numa lagoa natural como as Furnas!
É uma pena como esta gente vê o ambiente. A última intervenção oficial nas Furnas, o “alindamento” da Poça da Dona Beija, demonstra exactamente isso: um local de pujante mistério e valor histórico e científico foi convertido numa espécie de zona balnear sem alma. E se por um lado a sua construção no leito da ribeira deixa muitas dúvidas sobre se foram tidas em contas questões de segurança – aquela ribeira recebe os excedentes de água da Lagoa das Furnas, muitas vezes transbordando, e agora o seu leito foi reduzido em cerca de 50% - nem sequer tiveram a sensibilidade para voltarem a plantar os tradicionais inhames que havia no local. É não perceber nada de Ambiente e um caminho que o Partido da Terra condena claramente!

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Manel, aprecio e subscrevo o seu texto, relativo à Lagoa das Furnas e à intervenção na Poça da Beija. Não deixa de ser paradoxal, a forma como nos Açores um organismo a quem está acometida a obrigação legal de zelar e pugnar activa e coercivamente sobre a salvaguarda do nosso património natural, empreenda obras que atentam contra a sua missão.
por outras palavras é como entregar ao ladrão as chaves do portão. É uma chico-espertice saloia, só que neste caso o ladrão rouba mesmo. E neste caso rouba a nossa atenticidade e a originalidade da nossa paisagem.
Conte comigo em Outubro.

Partido da Terra-Açores disse...

Se o amigo é de facto o famoso Psiquiatra de Serviço, acabámos de receber um precioso endorsement. Bem haja! Acho que com o MPT na Assembleia coisas destas não aconteceriam - pelo menos não com esta veleidade!