quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Entrevista ao Cabeça de Lista pela Terceira no jornal A União

Entrevista ao cabeça de lista pela Terceira no jornal A União.

Paulo Jorge Rodrigues Martins, com 45 anos de idade, artista plástico de profissão, é o cabeça-de-lista do Partido da Terra – MPT ao círculo eleitoral da ilha Terceira nas legislativas regionais de 19 de Outubro.


Qual a mais-valia que a eleição de um deputado do Partido da Terra – MPT pelo círculo eleitoral da Terceira pode proporcionar à ilha?
A candidatura do MPT pela Terceira decorre da nova Lei Eleitoral, do seu círculo de compensação e da estratégia interna do partido. Como sabe, o MPT nunca se candidatou na Terceira e só nas últimas eleições regionais é que se candidatou por S. Miguel. Tentámos arranjar alguém na Terceira para liderar o projecto, mas não conseguimos. Como temos de nos candidatar a pelo menos 51% dos lugares para podermos receber a subvenção do Estado para a campanha eleitoral, decidimos candidatar-nos à mesma pela Terceira.


Não habitando na ilha, julga que poderá ser um defensor efectivo dos interesses da Terceira?
Digamos que a nossa candidatura na ilha é apenas para o Círculo de Compensação. Não temos expectativas de eleger qualquer deputado mas pensamos que a nossa candidatura enriquece o leque de alternativas que se coloca aos terceirenses e poderá ser o primeiro passo para o estabelecimento futuro do MPT na ilha.


Qual o motivo de não ter sido possível apresentar um cabeça-de-lista morador na ilha?

Falámos com várias pessoas que tinham o perfil – pessoas sérias, defensoras do ambiente e com gosto pela participação cívica e política. No entanto, deparámo-nos com diversas objecções – não de carácter programático mas uma espécie de "receio" de se meterem nestas lides. É compreensível e não criticamos, embora entendamos que o MPT poderá ser uma boa opção para a Terceira (como poderão ver no nosso Programa Eleitoral, que está no nosso site, em http://mpt.nosacores.net). Devemos, no entanto, dizer uma coisa: o actual sistema eleitoral não prevê que os deputados possam defender a sua ilha – eles são deputados dos Açores e não de cada ilha. O MPT defende uma revisão deste sistema, prevendo que os açorianos tenham dois votos: um para escolher o Governo e outro para escolher os deputados nominalmente. Porque o problema é que os açorianos estão também reféns de partidos que não têm qualquer qualidade ou alma, como vimos recentemente com a questão sobre o voto em Braille dos invisuais. E esse é um problema ainda maior…


Quais as principais dificuldades que identifica em termos de desenvolvimento da ilha Terceira?
A Terceira padece dos mesmos problemas que o resto dos Açores em termos de modelo de desenvolvimento – e tem os seus que são únicos. O facto, no entanto, é que o próprio modelo internacional está em causa – veja-se, por exemplo, a crise que está a afectar o sistema bancário dos Estados Unidos e a solução de intervencionismo que foi encontrada. O modelo económico que temos, e que serviu nos últimos anos, está em causa. O materialismo desenfreado simplesmente converteu-nos numa espécie de novos escravos e isso não nos traz felicidade. É preciso encontrar uma nova via e pensamos que ela pode começar pelos Açores. O MPT acha mesmo que os Açores têm um desígnio que devem cumprir.

Considera que a Terceira tem sido "maltratada" pelo poder político, sobretudo comparando com o nível de investimento realizado em São Miguel?

Quem imaginar que os Açores algum dia serão ricos, ou está equivocado ou anda a enganar alguém. Temos de compreender o que somos e qual é a nossa real vocação. O investimento em betão que tem sido realizado em S. Miguel passa por um conceito que seremos uma espécie de Mónaco no meio do Atlântico. É um erro grave, pois nunca o seremos e estamos a desperdiçar muitos recursos em projectos estúpidos. O que cumpre ao Estado, cá representado pela Região, é corrigir as assimetrias e lacunas no sentido de garantir uma sociedade justa, fraterna e com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Essa é que é a verdadeira riqueza a perseguir, que para além disso ainda se pode constituir como matéria-prima em termos económicos.
Não é com o investimento que tem sido realizado que esses objectivos são atingidos. S. Miguel está neste momento a descaracterizar-se rapidamente e quem beneficia desses investimentos não é a população. É natural que S. Miguel, com mais de metade do mercado regional, desenvolva certos aspectos económicos de uma forma aparentemente desproporcionada. Mas em termos das verbas do Plano, o facto é que S. Miguel recebe 27% do total, enquanto que a Terceira recebe 19%. Ou seja, não há propriamente falta de investimento. O problema tem mais a ver com a qualidade do investimento que é realizado e a escolha das prioridades. Bom Governo é aquele que consegue produzir muito com poucos recursos, não o contrário.


Um bom resultado para o Partido da Terra – MPT, nas próximas eleições regionais, passa obrigatoriamente pela eleição de deputado(s)?

Como já referi, o MPT não pensa eleger nestas eleições nenhum deputado pela Terceira mas pede o voto de todos os que acreditam que o nosso projecto será uma mais valia para os Açores. Nesta campanha estamos já a condicionar o debate político, mostrando do que somos capazes e a resposta por parte dos cidadãos está a ser extremamente positiva.
Um resultado excelente seria que o partido vencedor viesse a necessitar dos deputados do MPT para poder ter maioria no parlamento. Um bom resultado será eleger deputados pois estamos nesta corrida por convicção e pela verdade.

O novo círculo regional da compensação poderá na realidade beneficiar os partidos mais pequenos?
Em teoria pode, na prática ver-se-á. Mas o cenário mais interessante destas eleições é a ideia que temos que muita gente já percebeu que maiorias absolutas são ineficazes para a democracia e para a qualidade da governação.
Pelo que pensamos que muita gente irá apostar nos pequenos partidos, onde pensamos que o MPT já sobressai.

João Rocha

jrocha@auniao.com

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