sexta-feira, 5 de junho de 2009

Entrevista ao Açoriano Oriental


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Eleições devem evoluir para voto nominal diz Manuel Moniz


O candidato pelo MPT, Manuel Moniz, considera que "no dia em que as pessoas que não votaram nas Regionais forem às urnas mudam o panorama político dos Açores".

A dois dias do fim da campanha pouco se tem visto o MPT, relativamente aos outros partidos, em acções de rua. Porquê?

Estas são umas eleições que não dão nada de concreto. Não há nenhum lugar em disputa pelos pequenos partidos. Eu sei que não vou ser eleito. O objectivo do MPT é mostrar às pessoas que existe e que vai estar presente em todos os actos eleitorais. Em relação aos grandes partidos, tanto o PS como o PSD têm eurodeputados já garantidos, portanto a disputa está um bocado falseada.

O MPT é um movimento de carácter ecológico. Quais são as principais preocupações a este nível relativamente aos Açores e à Europa?

Quando se fala de ambiente e ecologia não são só as plantas, o mar e a qualidade de vida ambiental que estão em questão. Tem também a ver com um estilo de vida que visa salvaguardar a qualidade do planeta. Se olharmos o universo à nossa volta, até 100 mil anos-luz de distância, não encontramos nenhum planeta com as condições da Terra. Portanto, não podemos pensar que a economia é tudo, que podemos sujar tudo e que quando este planeta estiver esgotado vamos para outro. Não há outro! O actual sistema em que vivemos mistura democracia com economia. Mas o capitalismo está na recta final e tem um grande defeito: para sobreviver, o capitalismo precisa de ser continuamente alimentado. Quando os mercados começam a falhar, o que é que acontece? A validade dos produtos é cada vez menor: o carro é feito para falhar ao fim de três anos; a máquina de lavar ao fim de dois anos tem peças avariadas cujo arranjo sai mais caro do que comprar uma nova... entra-se assim num círculo vicioso que não é positivo porque o peso desse sistema económico para o ambiente é insustentável. Falar em aumentar a economia equivale a falar em destruir o planeta, que já vai enfrentar problemas gravíssimos que ainda nem conhecemos. Ou paramos agora, ou isto vai ficar muito mal. Quando vejo os políticos a dizerem que precisam que a economia aumente, o que estão a dizer, implicitamente, é que não se importam de destruir mais o planeta, só para que continuemos a viver neste sistema, que até é relativamente novo: a economia de mercado, como nós a conhecemos, tem menos de 200 anos. É um sistema de ilusão.

Quais são as alternativas?

Recentemente publiquei na internet uma brochura intitulada "Economia de dois níveis", que estabelece a diferença entre os produtos de luxo e aqueles que são uma necessidade. Nós trabalhamos, por um lado para termos garantia de sobrevivência, e por outro para termos "luxos", mas as coisas não se podem misturar. A casa onde eu vivo com os meus filhos não é um luxo, é um bem essencial, tal como o carro que eu uso para ir para o trabalho, ou a electricidade, ou os medicamentos, e a educação. A ideia central é não deixar que o capitalismo desça abaixo de um determinado nível de sobrevivência: o nível básico. Esta seria uma forma de reduzir a loucura que existe. Se houver um problema no capitalismo, as pessoas podem perder as suas casas, que são bens básicos. O conceito é manter um sistema de dois níveis, em que o capitalismo se joga ao nível de um certo luxo, não penetrando na zona das necessidades básicas. Isto passa pela nacionalização de algumas produções. Repare-se que são os produtores dos bens essenciais que ganham mais dinheiro. Quem controla a produção de energia ou a indústria farmacêutica, por exemplo, está rico. Isto não faz sentido. O lucro gerado deveria ser investido na investigação de novas aplicações. A ideia passa por habituar as pessoas a viverem com menos e a fazerem menos lixo.

O desmantelamento das quotas leiteiras tem sido muito discutido nesta campanha. Qual é a posição do MPT?

Os políticos deviam ser mais honestos relativamente a esta questão: as quotas leiteiras já eram... Agora conseguiram negociar com Bruxelas uns milhões como forma de compensação pelo fim das quotas, mas ainda não ouvi ninguém explicar como é que esta verba vai ser aplicada. As pessoas têm que perceber que há excedente de leite na Europa e quem investiu no sector tinha que saber que estava a trabalhar num mercado excedentário, que comporta riscos. No entanto o leite dos Açores tem a vantagem de ser um produto ecológico, devido ao tipo de alimentação das vacas. Uma vantagem de nunca foi utilizada. Nunca conseguimos colocar os nossos produtos no mercado com este rótulo "verde". Isto porque só no momento em que as práticas agrícolas forem todas "amigas do ambiente" é que vamos conseguir ter esta imagem de marca. A política agrícola dos Açores deve passar, em primeiro lugar, pela produção para o auto-consumo, e só depois pela exportação do excedentes - de qualidade - para nichos de mercado. De qualquer modo, penso que a única forma de minimizar os efeitos económicos do fim das quotas é baixar os custos de produção. A agro-pecuária foi introduzida nos Açores nos anos 60 porque se percebeu que era possível produzir gastando quase zero: a vaca fica na pastagem, sem custos de estábulo e de alimentação. Agora já não temos este tipo de maneio e gasta-se cada vez mais na produção porque existem vacas a mais relativamente aos pastos, sendo necessário gastar em outro tipo de alimentação. Se os agricultores quiserem ter algum rendimento terão que ter menos vacas e produzir mais, mas a custos muito reduzidos.

O que espera dos deputados açorianos no Parlamento Europeu?

O que se espera dos eurodeputados não é que defendam os Açores na Europa - para isso existe o Comité das Regiões, onde o Governo está representado. É preciso que tragam a Europa para os Açores. Isso não tem sido feito, e não acredito que venha a acontecer porque os políticos que vão ser eleitos são muito convencionais.

A abstenção é o principal "inimigo" a combater nestas eleições?

Não me considero um político, porque não sou pago para tal, mas sim um aspirante a político. Penso que os políticos convencionais deviam pôr a mão na consciência: nas últimas regionais, as mais importantes para os açorianos, 60 por cento dos eleitores não votaram. O que está mal é que não há representação. Se eu não puder votar num deputado, nominalmente, nunca vou ter a mesma confiança para o eleger. As pessoas já não acreditam neste sistema. As eleições europeias e regionais devem evoluir para um sistema de voto nominal, um voto em pessoas. Porque é que o MPT apela às pessoas para irem votar? Porque é aí que estão os votos que podem fazer a diferença: no dia em que 30 ou 40 por cento, dos 60 que não votaram, decidirem ir às urnas, mudam por completo o panorama político dos Açores se escolherem um pequeno partido. Há outro pormenor que nos devia fazer pensar: nas últimas eleições, 2 por cento dos votos estavam em branco. Era suficiente para eleger um deputado...

Não suspendeu a sua carteira profissional de jornalista durante esta campanha. Não acha que deveria haver uma separação entre o "Manuel Moniz jornalista" e o "Manuel Moniz candidato"?

Os jornalistas têm obrigação de ter um grau de cultura e de disciplina acima da média e um ética deontológica muito forte que permita aplicar a isenção nas notícias. Quando nos colocamos no papel de ter papéis, é fácil: eu consigo perfeitamente ser o "candidato Manuel Moniz" e depois entrar na redacção do jornal e passar a ser, exclusivamente, o "Manuel Moniz jornalista", e o que eu escrever seguirá tudo o que é exigido pelo exercício da profissão. Além disso, segundo a Constituição, todos os cidadãos são livres de se candidatar a um cargo político. Não seriam os jornalistas que não o poderiam fazer.

João Cordeiro

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